É inegável que o tema do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável está estabelecido de vez como um dos grandes debates da Política regional e global. Isso porque trata-se de um problema cada dia mais urgente, que atinge a um número imenso de pessoas (nesse caso, poder-se-ia dizer que ele atinge a todas as pessoas do planeta) e que ainda não possui solução viável, dividindo opiniões de todos os stakeholders envolvidos. Estas diversas soluções propostas por atores interessados na questão referem-se necessariamente a quais ações devemos tomar ou deixar de tomar (não ações) para melhorar nossa vida enquanto individuos de uma mesma sociedade. Em outras palavras, o que está em jogo é a própria definição de que liberdades e limites (ou responsabilidades) devemos e podemos ter frente a atual fase de evolução da humanidade.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro Em Busca da Política (Jorge Zahar Ed., 2000), afirma: "a arte da política, se for democrática, é a arte de desmontar os limites à liberdade dos cidadãos; mas é também a arte de autolimitação: a de libertar os individuos para capacitá-los a traçar, individual e coletivamente, seus próprios limites individuais e coletivos" (os grifos são originais). Entretanto, essa definição de limites autoimpostos é um fator dependente dos interesses de cada ator envolvido. Tais interesses, por sua vez, variam de acordo com uma concepção específica da história e uma determinada projeção do futuro, isto é, os interesses são definidos por quem são os atores - e, portanto, por suas histórias pessoais e coletivas - e quem eles querem ser ou aonde querem chegar, suas ambições e desejos para um mesmo futuro compartilhado. Cada ator, portanto, vê a realidade desde o seu ponto de vista, linguagem muitas vezes inacessível para os demais atores.
Jogue todos esses elementos no caldeirão de um debate aberto na Ágora (espaço simultâneamente público e privado de discussões, imprescindível à democracia) e adicione o ingrediente cultural do individualismo existente nos dias de hoje e uma pitadinha de assimetria de poderes entre os diversos grupos, e teremos um elemento químico como a nitroglicerina, tão instável e cheio de tensões que qualquer mudança no ambiente pode causar uma grande explosão. O problema é que algumas mudanças no ambiente, já nos avisou a Ciência, ocorrerão inexoravelmente, como o aumento na temperatura em até dois graus e suas consequências.
Exemplos práticos desses debates são inúmeros, como a Conferência de Copenhague ocorrida em março de 2010 e a Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra promovida pela Bolívia, em resposta à primeira, e ocorrida em abril do mesmo ano. Entretanto, o motivo que gerou esse post foi o debate sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, que depois de mais de 20 anos parece que agora encontrou uma solução. No dia 20 de abril, o TRF da primeira região suspendeu a liminar concedida pela Justiça do Pará que impedia a realização do leilão para a construção da Hidrelétrica. Tal leilão, portanto, deverá ser realizado até o final deste ano e as obras estão previstas para terminarem em 2019. O produto, a terceira maior hidrelétrica do mundo com capacidade de geração de 11 mil megawatts e um grande impacto ambiental.
Ora, é inegável que uma Usina desse porte causará danos ambientais na Floresta Amazônica. Com esse argumento, estão as diversas comunidades indígenas da região, as ONG's e movimentos sociais em defesa do meio ambiente e alguns norteamericanos de interesses duvidosos que defendem a internacionalização da área. Por outro lado, existe o argumento da demanda, o Brasil necessitará cada vez mais dessa energia (ou alguém aí está disposto a deixar de consumir o que consome atualmente?), cujas fontes alternativas não conseguem oferecer em quantidades suficientes, e os habitantes da região necessitam do emprego que irá gerar a Usina. Sobre isso escreve Delfim Neto, em sua coluna O oleiro de Altamira na revista Carta Capital.
O Brasil está entrando em uma fase de desenvolvimento nunca antes atingida em sua história. A reputação e a confiabilidade do país segue crescendo de maneira perceptível a nível internacional. Ainda somos famosos pelo futebol, mas aumenta o número de pessoas que nos conhecem pela nossa trajetória política, pela nossa cultura, pelos nossos programas sociais, pelas nossas decisões econômicas etc.. Lula recentemente foi eleito o líder mundial mais influente pela lista Times 100 da revista americana Times. É verdade que, sim, necessitamos dessa energia que produzirá a Usina de Belo Monte. Mas que a façamos respeitando os direitos dos indígenas da região (como realmente tem sido feito até então) e de forma a agredir minimamente o meio ambiente. Uma solução seria incluir legalmente a participação de uma consultoria ambiental nos dois consórcios que concorrerão no leilão da hidrelétrica.
Não tenho dúvidas, grande parte dos avanços realizados pelo Brasil nesses últimos anos é fruto da tradição democrática que aqui se estabeleceu no pós ditadura. Temos muito o que caminhar, mas somos exemplos para muitos países nesse sentido, sobretudo com a Constituição Federal de 1988 e algumas de nossas instituições políticas. E digo mais, grande parte dos créditos deve ser dada à gestão do governo Lula que se negou a seguir com uma governança guiada exclusivamente pelas teorias neoliberais (que mostraram novamente seu fracasso em 2008/2009) e buscou, junto com a população, uma alternativa que era a nossa cara, ao invés de simplesmente importar estratégias de outras localidades. É preciso acreditar em nossas soluções e discutir incessantemente todo e qualquer tema. É preciso participar democraticamente. É preciso entender que não existe o privado sem o público e vice-versa. Aplausos para as décadas de discussão em torno da contrução da hidrelétrica de Belo Monte e, tenhamos presente que essa discussão ainda não terminou. Fiquemos, pois, de olho!
Jogue todos esses elementos no caldeirão de um debate aberto na Ágora (espaço simultâneamente público e privado de discussões, imprescindível à democracia) e adicione o ingrediente cultural do individualismo existente nos dias de hoje e uma pitadinha de assimetria de poderes entre os diversos grupos, e teremos um elemento químico como a nitroglicerina, tão instável e cheio de tensões que qualquer mudança no ambiente pode causar uma grande explosão. O problema é que algumas mudanças no ambiente, já nos avisou a Ciência, ocorrerão inexoravelmente, como o aumento na temperatura em até dois graus e suas consequências.
Exemplos práticos desses debates são inúmeros, como a Conferência de Copenhague ocorrida em março de 2010 e a Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra promovida pela Bolívia, em resposta à primeira, e ocorrida em abril do mesmo ano. Entretanto, o motivo que gerou esse post foi o debate sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, que depois de mais de 20 anos parece que agora encontrou uma solução. No dia 20 de abril, o TRF da primeira região suspendeu a liminar concedida pela Justiça do Pará que impedia a realização do leilão para a construção da Hidrelétrica. Tal leilão, portanto, deverá ser realizado até o final deste ano e as obras estão previstas para terminarem em 2019. O produto, a terceira maior hidrelétrica do mundo com capacidade de geração de 11 mil megawatts e um grande impacto ambiental.
Ora, é inegável que uma Usina desse porte causará danos ambientais na Floresta Amazônica. Com esse argumento, estão as diversas comunidades indígenas da região, as ONG's e movimentos sociais em defesa do meio ambiente e alguns norteamericanos de interesses duvidosos que defendem a internacionalização da área. Por outro lado, existe o argumento da demanda, o Brasil necessitará cada vez mais dessa energia (ou alguém aí está disposto a deixar de consumir o que consome atualmente?), cujas fontes alternativas não conseguem oferecer em quantidades suficientes, e os habitantes da região necessitam do emprego que irá gerar a Usina. Sobre isso escreve Delfim Neto, em sua coluna O oleiro de Altamira na revista Carta Capital.
O Brasil está entrando em uma fase de desenvolvimento nunca antes atingida em sua história. A reputação e a confiabilidade do país segue crescendo de maneira perceptível a nível internacional. Ainda somos famosos pelo futebol, mas aumenta o número de pessoas que nos conhecem pela nossa trajetória política, pela nossa cultura, pelos nossos programas sociais, pelas nossas decisões econômicas etc.. Lula recentemente foi eleito o líder mundial mais influente pela lista Times 100 da revista americana Times. É verdade que, sim, necessitamos dessa energia que produzirá a Usina de Belo Monte. Mas que a façamos respeitando os direitos dos indígenas da região (como realmente tem sido feito até então) e de forma a agredir minimamente o meio ambiente. Uma solução seria incluir legalmente a participação de uma consultoria ambiental nos dois consórcios que concorrerão no leilão da hidrelétrica.
Não tenho dúvidas, grande parte dos avanços realizados pelo Brasil nesses últimos anos é fruto da tradição democrática que aqui se estabeleceu no pós ditadura. Temos muito o que caminhar, mas somos exemplos para muitos países nesse sentido, sobretudo com a Constituição Federal de 1988 e algumas de nossas instituições políticas. E digo mais, grande parte dos créditos deve ser dada à gestão do governo Lula que se negou a seguir com uma governança guiada exclusivamente pelas teorias neoliberais (que mostraram novamente seu fracasso em 2008/2009) e buscou, junto com a população, uma alternativa que era a nossa cara, ao invés de simplesmente importar estratégias de outras localidades. É preciso acreditar em nossas soluções e discutir incessantemente todo e qualquer tema. É preciso participar democraticamente. É preciso entender que não existe o privado sem o público e vice-versa. Aplausos para as décadas de discussão em torno da contrução da hidrelétrica de Belo Monte e, tenhamos presente que essa discussão ainda não terminou. Fiquemos, pois, de olho!