sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago

O escritor português, nobel de literatura, José Saramago faleceu nessa sexta-feira, aos 87 anos, em sua casa nas Ilhas Canárias. Autor de obras primas como Ensaio sobre a cegueira, O Envangelho segundo Jesus Cristo, As intermitências da Morte e, seu último e controverso romance, Caim, publicado em 2009, Saramago era reconhecidamente cético, pessimista e um eterno combatente do que ele considerava as grande injustiças do nosso tempo, entre elas os grandes poderes econômicos e a Igreja.

"Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo", afirmou o autor certa vez em uma entrevista em São Paulo (2005). Saramago também era um crítico da democracia e seu status de inquestionável credibilidade atual, não obstante ser uma democracia "sequestrada, condicionada, amputada", cujo o poder do cidadão limita-se a um simples sim/não a este ou aquele governo, uma vez a cada período de tempo (ver vídeo).

"Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otimista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário", disse Saramago em 2008. Em seu vídeo para o programa Janela da Alma (versão em português; versão em espanhol) o autor comenta sobre a poderosa máquina que nos leva a nos comportar de forma acrítica, a sermos levados pelas cada vez mais mirabolantes e rasas fantasias da modernidade, a saciar nossos 'desejos' com mais e mais bens de consumo, supérfluos e descartáveis. Saramago fala de uma ditadura econômica, mais rasteira ainda que as ditaduras políticas e militares, porque atua de forma tácita e  através do nosso próprio 'consentimento'.

Hoje o mundo perdeu um de seus grandes combatentes críticos. Não é à toa que, desde esta fria madrugada, cai ininterruptamente uma chovizna melancólica aqui em Santiago. Saramago, entretanto, segue, imortalizado em suas idéias.