segunda-feira, 14 de junho de 2010

Eleições 2010: hora de se posicionar - Dilma Roussef (PT)

Então seguimos rumo a meados de Junho e a chegada do inverno nos denota que o 2010 já vai também pela sua metade. Ano este que, diga-se de passagem, é especialmente decisivo para o futuro do país devido às eleições presidenciais que tomarão lugar no dia 03 de Outubro. É hora do Brasil parar para pensar em sua trajetória até aqui, não só do Governo Lula, senão também de toda sua história, seus movimentos sociais e lutas pela cidadania (algumas vitoriosas e outras nem tanto). E a história, como já disse em posts anteriores, é diferente para cada sujeito, que a entende e vive de forma distinta. Por isso a democracia, isto é, a oportunidade de cada passoa contar sua história e poder ouvir as histórias que contam os demais. Em outras palavras - e mais além do simples conceito econômico que afirma que a democracia é a soma dos interesses individuais - é a oportunidade do debate entre as diferentes versões de uma mesma história construída e reconstruída cotidianamente, cujo resultado é a depuração de idéias e a definição de bases sólidas para a projeção de um futuro em comum. É hora, pois, de tomar uma decisão!

Mas decisões não existem sem o alimento vital da informação. O lado positivo é que vivemos em nada menos que a era informacional, na qual se pode adquirir informações vindas de diferentes fontes e a custos muito baixos e acessíveis. O lado negativo é que muitas vezes o fluxo informacional supera nossa capacidade de processamento, sem contar na enorme quantidade diária de lixos informativos que recebemos, tornando árdua a tarefa de separar o joio do trigo. Além disso, os incentivos para tomar a decisão que somos obrigados a tomar na ocasião do voto muitas vezes são a longo prazo, quando não inexistentes por completo, o que torna essa tarefa ainda mais difícil e desinteressante segundo um ponto de vista imediato. Entretanto, como cidadãos, aqui estamos e para isso estamos. E estamos porque acreditamos na mudança crescente pela via democrática da cidadania e da participação popular. É por isso que, recém lançadas as primeiras candidaturas oficiais, resolvi postar semanalmente nesse espaço um resumo e a minha impressão sobre cada uma delas. Devo alertar que isso, com a exceção de hoje, não afetará meus textos quinzenais, que continuarão versando sobre um sem fim de outras facetas desse mistério que podemos chamar vida.

Começarei então pela candidatura da presidenciável Dilma Roussef, lançada nesse dia 13 de junho na conferência realizada pelo PT em Brasília. Em seu discurso, Dilma parte de uma visão em que o Brasil mudou para melhorar com o governo Lula e aposta na continuidade de tal mudança. Sua principal plataforma é a de crescimento do país aliado à inclusão social da população, o que significa diminuir a desigualdade entre os diversos setores da população. Partindo de uma visão bastante moderna, Dilma aposta na integração entre Estado e setor produtivo e entre governo e sociedade para promover tal situação de crescimento e inclusão social. Além disso, menciona também a integração inter-estadual entre as diversas esferas de governo, de modo a diminuir as diferenças entre as regiões do Brasil.

Mais especificamente, Dilma delinea o caminho rumo ao crescimento pretendido segundo os avances que podem ser realizados em quatro áreas principais, educação, saúde, segurança e emprego. Quanto a educação, visa mormente a qualidade do ensino em sua totalidade, isto é, da creche à pós-graduação aliado à inclusão digital para formar uma sociedade do conhecimento. Para isso prevê a formação contínua dos professores do ensino fundamental e médio, bem como o pagamento de salários mais justos e condizentes com os labores destes profissionais. Avaliações dos alunos e das escolas terão a tarefa de dizer se a política está ou não dando resultados. Além disso, Dilma aposta na continuição da interiorização do ensino técnico, no uso de bolsas de estudos para apoiar os alunos (ampliação do PróUni) e na instalação de banda larga nas escolas.

Quanto à saúde, a candidata mencionou um salto de qualidade no SUS baseado em três pilares de eficiência: financiamento adequado e sustentável do sistema, valorização das práticas preventivas e organização dos vários níveis de atendimento - básico, ambulatórial e hospitalar - para garantir uma alta resolutividade.

Em termos de segurança pública a candidata foi vaga e mencionou apenas a luta contra o crime organizado, o roubo de cargas, o tráfico de armas e drogas, com destaque para o crack. Todos velhos clichês de nossas campanhas eleitorais, perpétuos problemas sociais produzidos e reproduzidos pelas duras condições de desigualdade existentes no Brasil, contra os quais até o momento nenhum político conseguiu obter sólidos avances sociais.

Por fim, sobre a questão do emprego Dilma aposta no fomento à investigação e à produção industrial no Brasil, além da continuidade das obras de infra-estrutura do PAC e de planejamento urbano, que se guiarão pela garantia de acesso uninversal ao serviços básicos. Também foram mencionados o desenvolvimento regional, a valorização crescente do PRESAL e a continuidade do Programa Minha Casa, Minha Vida para combater o déficit habitacional existente no país. Por último, foi mencionado o fomento à cultura como garantia da diversidade cultural. No plano internacional, a candidata reforçou a necessidade de acordos multilaterais, sobretudo com nossos vizinhos da América Latina e com países da África.

No geral, as palavras de Dilma refletiram a visão orgânica do Partido dos Trabalhadores e também o bom trabalho que vem sendo desenvolvido por Lula a frente do país nesses últimos oito anos. Trata-se da eleição de um caminho diferente, nem tão liberal a ponto de se ver atado às medidas que indica o FMI e que tornaram o país tão vulnerável a crises externas como nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, nem tão à esquerda a ponto de colocar todas as fichas nas mãos do Estado, solapando a liberdade e individualidade. O que vejo na plataforma do PT e de Dilma é um caminho feito por brasileiros e voltado para o Brasil, com nossas próprias e únicas características. É a capacidade de dizer sim e não ao mesmo tempo, sem radicalismos. É apostar no Estado como principal fomentador do crescimento e promotor da igualdade social, mas aceitar seus limites e buscar em parceiros (setor privado e terceiro setor) o capital humano, social e econômico necessário para mover as engrenagens do país rumo a um futuro coletivo. É mais que nada incluir, com a continuidade dos programas sociais com destaque ao Bolsa Família, também mencionado, todos os brasileiros nesse processo de crescimento e contrução do futuro.

Trata-se, portanto, de uma forte plataforma, sustentável do ponto de vista teórico e prático (com o que foi feito até agora pelo governo Lula), a cujas idéias eu me considero, a priori, bastante aberto. Há, finalmente, três pontos negativos. O primeiro é a omissão no discurso de Dilma, de um fortalecimento da cidadania pela via da participação popular nas políticas públicas. Esse é um tema cada vez mais crescente em todo o mundo, que busca empoderar o cidadão tornando-o ao mesmo tempo destinatário e co-autor das iniciativas do governo, agregando a estas legitimidade, eficiência e aproximação com os reais problemas sociais. É dizer que não queremos simplesmente outorgar um cheque em branco a nossos políticos uma vez a cada quatro anos, senão participar cotidianamente nos assuntos públicos que nos afetam e interessam. O segundo ponto é a superficialidade com que Dilma tratou o tema ambiental, também sumamente importante nos dias atuais. Por fim, o terceiro ponto, mais além do discurso, é a lamentável, ainda que imprescindível do ponto de vista do pragmatismo político, aliança do PT com alguns setores oligárquicos do PMDB, resultando em apoio a velhos conhecidos como José Sarney, no Maranhão, e Jader Barbário, no Pará, entre outros. Tais fatos nos despertam de qualquer tipo de ilusão democrática e nos fazem perceber que, por mais que avancemos como país, há ainda alguns interesses intocáveis em nosso vasto território tupiniquim.

Até a proxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário